O jornalista Raul Juste Lores foi o convidado da edição de outubro do Yuca Talks, série de encontros realizados pela Yuca para falar sobre cidades, negócios e pessoas. No papo com Rafael Steinbruch, fundador da Yuca, Lores relembrou as ocasiões em que enfrentou dificuldades para alugar apartamentos em Nova York, Washington, Pequim e Buenos Aires, locais onde morou quando trabalhava como correspondente internacional para veículos como o jornal Folha de S. Paulo e a revista Veja. 

Segundo o jornalista, a experiência mostrou que Estados Unidos e China são mais parecidos do que parece no que diz respeito a imóveis para locação. “São muito pouco burocráticos, o que é ótimo, mas Nova York traz uma grande dificuldade para encontrar um lugar disponível”, afirma. Na opinião dele, a capital Argentina também oferece trâmites mais fáceis do que as cidades brasileiras. “É inclusive mais compacta e sustentável do que São Paulo, assim como Medellín, na Colômbia. Temos de acreditar que a gente tem jeito”, pontuou. 

Autor do livro “São Paulo nas Alturas”, em que detalha como a arquitetura modernista dos anos 1950 aliou-se ao desenvolvimento imobiliário para criar um dos períodos mais vibrantes da capital paulista, Lores é crítico ao momento atual da cidade. “São Paulo é reflexo de uma elite pouco generosa que não tem referência do viver urbano, que em outras cidades é entendido como a possibilidade de ter milhões de pessoas convivendo e criar uma terra de oportunidades”, diz. “A área com mais empregos fica entre as avenidas Paulista e Brigadeiro Faria Lima, onde não residem nem 20% da população. Enquanto isso, quem mora nas áreas conhecidas como “pulmões da cidade”, os bairros residenciais arborizados, tem quatro carros”, afirma. 

Para Lores, mais vale exercitar um conceito de humildade como se faz em Nova York, onde há consenso de que é melhor pegar o metrô e caminhar do que ficar quarenta minutos no trânsito. “Manhattan é mais verde porque as pessoas não usam carro durante a semana. Isso faz com que a malha de metrô fique mais barata e seja possível chegar em qualquer lugar em meia hora, enquanto em São Paulo todo mundo conhece pessoas que gastam todos os dias horas para chegar ao trabalho”, diz.

O jornalista lembra que na São Paulo dos anos 1950, cerca de dois terços da população vivia em imóveis alugados, mas que, com o tempo, foi predominando uma lógica de aquisição de residências. “São compras que comprometem orçamentos familiares ao longo de trinta anos tendo como desfecho mais comum o preço final de revenda não alcançar o valor que foi pago”, diz Lores.

A ideia foi complementada por Rafael Steinbruch, que acrescentou que a Yuca acredita na locação como uma importante ferramenta para combater o déficit habitacional. “Fizemos uma experiência no Belenzinho, subsidiando o aluguel de unidades de 24 metros quadrados e vimos todas serem locadas em apenas um mês. Há uma demanda reprimida muito grande”, afirmou o cofundador da Yuca. A iniciativa busca dar mais flexibilidade às formas de morar e seguir os bons exemplos praticados em outras cidades do mundo e até mesmo em outras épocas, em que a inovação foi um importante componente para o desenvolvimento das cidades e para dar mais qualidade de vida às pessoas.